sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Parmênides

Chegamos, finalmente, ao último filósofo pré-socrático que veremos. Parmênides nasceu, também por volta do século VI a.C., em Eléia, região atualmente localizada na Itália. Para ele, o princípio das coisas, a arché, é o SER, aquilo que é e não pode não ser. Em seu conhecido poema Sobre a natureza, Parmênides distingue duas vias: a Via da Verdade (alethéia) e a Via da Opinião (dóxa):

“Pois bem, eu te direi, e tu recebe a palavra que ouviste,
as únicas vias de pesquisa que são a pensar:
a primeira, que é e que portanto não é não ser,
de Persuasão é a via (pois à verdade acompanha);
a outra, que não é e portanto que é preciso não ser,
esta então, eu te digo, é atalho de todo incrível;
pois nem conhecerias o que não é (pois não é exequível),
nem o dirias...”

A Via da Verdade é o caminho para o ser, para aquilo que é tal como é, aquilo que, pelo princípio de identidade, é uma coisa e não pode ser outra ao mesmo tempo. Por exemplo, uma mesa é sempre e unicamente uma mesa, não pode ser ao mesmo tempo mesa e cadeira. E assim o ser: se o ser é, o seu contrário, pelo princípio de não-contradição, o não ser, não é. Outro exemplo: se você que está lendo este blog existe, se todos sabemos e concordamos que você existe, então você não pode não existir. Certo? Ou você não existe? No primeiro exemplo, está em jogo a identidade de cada coisa: se uma coisa é X, ela não pode ser Y; no segundo exemplo, está em jogo a contradição: seria contraditório dizer que X existe e não existe ao mesmo tempo. Aquilo que pode ser pensado e dito é aquilo que é, o ser; o seu contrário, o não ser, não pode ser nem dito nem pensado. Em outros termos, apenas o ser existe: princípio de todas as coisas, imóvel e imutável, eterno e indestrutível, uno, pois não há nada que não seja o ser:

“Só ainda o mito de uma via
resta [Via da Verdade], que é; e sobre esta indícios existem,
bem muitos, de que ingênito sendo é também imperecível,
pois é todo inteiro, inabalável e sem fim;
nem jamais era nem será, pois é agora todo junto,
uno, contínuo...”

Pensar o ser e dizê-lo tal como é consiste em trilhar a Via da Verdade, em conhecer a realidade do ser, do mundo e das coisas tais como são, evitando a Via da Opinião, mutável, instável, que emite afirmativas sobre as coisas com base em sua aparência, ou seja, com base no modo como a coisa aparece em dado momento (e em cada momento uma coisa pode aparecer de determinado modo) e dependendo do estado físico e psicológico do observador no momento em que opina, estado também muito variável. Para Parmênides, a mesma coisa não pode ser uma de manhã e outra à tarde, ser uma coisa para uma pessoa e outra para a outra, pois aquilo que é é uno, invariável, e quando as opiniões divergem dizem respeito apenas à aparência da coisa, não do ser real e verdadeiro do que existe, de sua essência.


E também Parmênides não pode ficar sem a sua música, "O Que", do Titãs:


Nenhum comentário:

Postar um comentário