Chegamos,
finalmente, ao último filósofo pré-socrático que veremos. Parmênides nasceu,
também por volta do século VI a.C., em Eléia, região atualmente localizada na
Itália. Para ele, o princípio das coisas, a arché, é o SER, aquilo que é e não pode não ser. Em seu
conhecido poema Sobre a natureza,
Parmênides distingue duas vias: a Via da
Verdade (alethéia) e a Via da Opinião (dóxa):
“Pois
bem, eu te direi, e tu recebe a palavra que ouviste,
as únicas
vias de pesquisa que são a pensar:
a
primeira, que é e que portanto não é não ser,
de
Persuasão é a via (pois à verdade acompanha);
a outra,
que não é e portanto que é preciso não ser,
esta
então, eu te digo, é atalho de todo incrível;
pois nem
conhecerias o que não é (pois não é exequível),
nem o
dirias...”
A
Via da Verdade é o caminho para o
ser, para aquilo que é tal como é, aquilo que, pelo princípio de identidade, é uma coisa e não pode ser outra ao mesmo
tempo. Por exemplo, uma mesa é sempre e unicamente uma mesa, não pode ser ao
mesmo tempo mesa e cadeira. E assim o ser: se o ser é, o seu contrário, pelo princípio de não-contradição, o não
ser, não é. Outro exemplo: se você que está lendo este blog existe, se todos
sabemos e concordamos que você existe, então você não pode não existir. Certo?
Ou você não existe? No primeiro exemplo, está em jogo a identidade de cada
coisa: se uma coisa é X, ela não pode ser Y; no segundo exemplo, está em jogo a
contradição: seria contraditório dizer que X existe e não existe ao mesmo
tempo. Aquilo que pode ser pensado e dito é aquilo que é, o ser; o seu contrário,
o não ser, não pode ser nem dito nem pensado. Em outros termos, apenas o ser
existe: princípio de todas as coisas, imóvel e imutável, eterno e
indestrutível, uno, pois não há nada que não seja o ser:
“Só
ainda o mito de uma via
resta
[Via da Verdade], que é; e sobre esta indícios existem,
bem
muitos, de que ingênito sendo é também imperecível,
pois
é todo inteiro, inabalável e sem fim;
nem
jamais era nem será, pois é agora todo junto,
uno,
contínuo...”
Pensar o ser e dizê-lo tal como é consiste em trilhar a Via da Verdade, em conhecer a realidade
do ser, do mundo e das coisas tais como são, evitando a Via da Opinião, mutável, instável, que emite afirmativas sobre as
coisas com base em sua aparência, ou seja, com base no modo como a coisa
aparece em dado momento (e em cada momento uma coisa pode aparecer de
determinado modo) e dependendo do estado físico e psicológico do observador no
momento em que opina, estado também muito variável. Para Parmênides, a mesma
coisa não pode ser uma de manhã e outra à tarde, ser uma coisa para uma pessoa
e outra para a outra, pois aquilo que é é uno, invariável, e quando as opiniões
divergem dizem respeito apenas à aparência
da coisa, não do ser real e verdadeiro do que existe, de sua essência.
E também Parmênides não pode ficar sem a sua música, "O Que", do Titãs:
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