terça-feira, 17 de setembro de 2013
Para descontrair!
Em tempos de Atlético campeão da Libertadores e de Cruzeiro líder do Brasileirão, por que não um futebol filosófico já que tudo vai bem nessas paragens mineiras?
Sobre Machado de Assis
A última questão do trabalho em grupo desse bimestre exige a leitura de alguns capítulos de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Neste site
http://machado.mec.gov.br/
é possível ter acesso à obra completa de Machado. Basta clicar em "Obra Completa", no canto esquerdo; "Romance", na página que então será aberta e escolher o formato em que desejam ler (em pdf ou em html) as Memórias póstumas. Outras opções seriam pegar emprestado da biblioteca, de algum amigo ou, a melhor delas, comprar o livro logo de uma vez, já que é barato e vez ou outra poderão precisar dele. Como sempre, meus caros, boa leitura!
Mente e cérebro
O autor do texto abaixo, parte da bibliografia sugerida para o trabalho em grupo, analisa as concepções monista e dualista por um viés bastante atual: a neurociência, que se preocupa com o estudo de nosso sistema nervoso. As questões debatidas por Sócrates, Platão e outros filósofos antigos continuam interessando a vários ramos da ciência contemporânea. Não se preocupem com o vocabulário neurocientífico; para os nossos fins, o que interessa mesmo é perceber a atualidade da disputa entre monismo e dualismo e as possibilidades de abordagem desse tema. Boa leitura!
“A primeira questão colocada pela filosofia da mente é a seguinte: serão
mente e corpo a mesma coisa? Será o pensamento apenas um produto do meu cérebro
— que produziria pensamentos da mesma forma que o meu pâncreas produz insulina?
Qual é a natureza dos fenômenos mentais?
Essa não é apenas uma primeira questão numa ordem de indagações. Trata-se da
pergunta mais importante a ser respondida pela filosofia da mente — o problema
fundamental que dá origem a quase todos os temas tratados por essa disciplina.
Eu posso fechar meus olhos e, numa fração de segundos, pensar em estrelas
coloridas cintilando num céu azul-escuro. Estrelas que nem sequer sei se
existem, e que talvez estejam a muitos anos-luz de distância. Eu posso imaginar
uma vaca amarela ou então dizer que estou sentindo muito calor. Entretanto, se
alguém pudesse abrir o meu cérebro e examiná-lo com o mais aperfeiçoado
instrumento de observação de que a ciência dispõe, não veria estrelas coloridas
nem uma vaca amarela. Veria apenas uma massa cinzenta, cheia de células ligadas
entre si.
Essas células são chamadas neurônios, verdadeiras unidades do sistema
nervoso cuja existência foi finalmente provada somente há cerca de um século
com o trabalho de S. Ramón y Cajal. Até então muitos achavam que o sistema
nervoso era um conjunto de vias contínuas, subdivididas em minúsculos
filamentos. Os neurônios têm diversas formas e tamanhos, tendo, todos,
entretanto, uma região destinada a fazer contato com outros neurônios, os
chamados dendritos. O corpo da célula, o soma, contém um núcleo e outras
estruturas, como as mitocôndrias, que participam dos aspectos metabólicos da atividade
dos neurônios. Há também uma outra conexão de um neurônio com outros, mais
longa e através da qual se movimenta o impulso nervoso. Essa conexão é chamada axônio.
Cada região do neurônio revela propriedades elétricas, mas os impulsos
geralmente ocorrem, na maioria das vezes, no axônio.
Desde o aparecimento dos trabalhos de Ramón y Cajal, nenhuma outra
disciplina se desenvolveu tanto neste século XX quanto a neurociência. Dispomos
hoje de um conhecimento bastante preciso do funcionamento cerebral e das suas
unidades básicas, bem como das reações químicas que nele ocorrem. Sabemos que o
cérebro é uma máquina complexa resultante da reunião de elementos fundamentais:
o neurônio ou unidade básica, as sinapses ou conexões entre os neurônios e as
ligações químicas que ali ocorrem, através de neurotransmissores e receptores.
Essas combinações tornam-no uma máquina extremamente poderosa, na medida em que
são capazes de gerar configurações e arranjos variados num número astronômico.
Contudo, o grande desafio que a neurociência ainda enfrenta é a dificuldade
(ou será uma impossibilidade?) de relacionar o que ocorre no cérebro com aquilo
que ocorre na mente, ou seja, de encontrar algum tipo de tradução entre
sinais elétricos das células cerebrais e aquilo que percebo ou sinto como sendo
meus pensamentos. A observação da atividade elétrica do meu cérebro não permite
saber se estou pensando em estrelas coloridas ou numa vaca amarela. Alguém
poderia até inferir — de algum tipo de observação do que ocorre no meu cérebro
— que estou sentindo calor, mas não saberia dizer se o calor que eu sinto é
maior ou menor do que o calor que o cientista, ao observar meu cérebro, estaria
sentindo.
Se ninguém pode observar esses fenômenos que ocorrem em mim e se ninguém os
encontra no meu cérebro, então posso formular duas perguntas: Onde eles estarão
ocorrendo? E o que serão eles se — pelo menos inicialmente — não posso supor
que sejam objetos como quaisquer outros que se apresentam diante de mim, como
parte da natureza?
Estas duas questões estão na origem da determinação daquilo a que chamamos “subjetividade”.
As estrelas coloridas e cintilantes, bem como as vacas amarelas, existem para mim,
pelo menos momentaneamente. Se ninguém mais pode observá-las, posso então
dizer que estes são estados subjetivos. Os estados subjetivos
encontram-se na nossa mente, mas não na natureza. Eu preciso de uma mente para
ter estados subjetivos, já que esses não se podem encontrar nem mesmo no meu
cérebro. Surge então uma pergunta preliminar: mas o que são as mentes? Se as
mentes se caracterizam por ter estados subjetivos e esses não se podem
encontrar no meu cérebro, estaremos afirmando que então não precisamos de
cérebros para ter mentes? Algumas pessoas sustentam tal ponto de vista, quase
sempre a partir de crenças religiosas de vários tipos. Esse ponto de vista é,
entretanto, contra-intuitivo: sabemos que, se danificarmos o cérebro de uma
pessoa, muitas das suas atividades mentais serão também afetadas. Sabemos
também que, se bebermos várias doses de uísque, a nossa mente ficará alterada.
O mesmo ocorre quando tomamos algum tipo de droga. Altero a minha mente porque
alterei o meu corpo — sabemos que tanto o álcool como as drogas atuam sobre
regiões do cérebro, alterando o seu equilíbrio químico. O problema que
enfrentamos consiste em definir que tipo de relação existe entre a mente
e o corpo ou entre a mente e o cérebro.
Podemos começar por considerar que tipo de estratégia poderíamos adotar para
abordar esse problema. Uma delas consiste em apostar no avanço progressivo da
ciência e supor que o problema da relação mente e cérebro seja um problema empírico,
ou seja, um problema científico como qualquer outro que algum dia acabará
por ser desvendado. O grande avanço da neurociência nos últimos anos e a
progressiva e tentadora possibilidade de explicar a natureza do pensamento
através da estrutura química do cérebro seria uma boa razão para adotar essa
estratégia. Outra estratégia consiste em apostar que esse é um problema que
ultrapassa os limites daquilo que a ciência pode vir a esclarecer. Qualquer uma
das estratégias significa uma aposta. Uma aposta que, de uma forma ou de outra,
envolve uma tomada de decisão em favor de algum tipo de imagem do mundo.
Um exame preliminar de como a relação entre mente e cérebro poderia ser
concebida parece forçar-nos a optar por dois tipos de alternativas básicas: ou
os estados mentais (e estados subjetivos) são apenas uma variação ou um tipo
especial de estados físicos (monismo); ou os estados mentais e subjetivos
definem um domínio completamente diferente — e talvez à parte — dos fenômenos
físicos (dualismo). Essas duas alternativas são apenas a transcrição das
apostas que podemos fazer, seja em favor de uma imagem do mundo ou de
outra. A primeira sugere que existem apenas cérebros e que os estados subjetivos
podem ser apenas uma ilusão a ser desfeita pela ciência. A segunda aposta na
existência de algo a que chamamos "mentes" que, para alguns, só
poderia ser explicado pela religião ou pela adoção de uma visão mística do
mundo.
É nesse sentido que o problema mente-cérebro é também visto como um problema
ontológico: é preciso saber se o mundo é composto apenas de um tipo de
substância, ou seja, a substância física, e se a mente é apenas uma variação
desta última, ou se, na verdade, nos defrontamos com dois tipos de substâncias
totalmente distintas, com propriedades irredutíveis entre si. Por outras
palavras: há duas substâncias ou uma só? Há uma realidade ou pelo menos duas?
Se há duas realidades, um mundo da matéria e outro imaterial, de que lado devemos
situar as mentes?”.
TEIXEIRA, João de Fernandes. Mente, cérebro e cognição. Petrópolis: Vozes, 2000, pp. 15 - 17.
Visto no site: http://criticanarede.com/fil_mentecerebro.html
Corpo e psiquismo
Quando não pensamos profundamente sobre algo aparentemente
evidente somos impelidos, com base em nossos vários preconceitos, a julgar que
o conhecemos e que nada há que nos induza a pensar mais sobre isso. Assim o
nosso corpo: julgamos conhecê-lo detalhadamente, de modo que raramente somos
levados a nos perguntar sobre ele. Temos braços, pernas, tronco etc.; sentimos
fome, frio, cansaço. Estamos a experimentá-lo a todo o momento, e esse contato
e exercício cotidianos ocultam dimensões mais complexa de nossa relação com
ele. Como nos relacionamos com o nosso corpo? O dominamos ou nos deixamos
dominar por ele? Se o conhecemos tão bem, por que nos sentimos desconcertados
ao vê-lo em uma filmagem, da mesma forma como estranhamos ouvir a gravação de
nossa voz?
Os filósofos também se debruçaram
sobre o modo como nos relacionamos com o corpo. Existem, pelo menos, duas
tendências de explicação entre eles: o dualismo, que afirma serem corpo e alma
(ou mente *) separados e distintos; e o monismo, que afirma que corpo e alma
são na verdade compostos pelo mesmo elemento, por matéria, e que com a morte do
corpo morre também a alma.
Dentre os defensores desta última
concepção, o monismo, está Epicuro,
filósofo grego nascido em 341 a.C., que afirmava que a alma era composta por
átomos, assim como o corpo e que, com a morte, tanto os átomos do corpo quanto
os da alma se dispersavam na matéria, de modo que após a morte não haveria vida
consciente, pois, assim como o corpo, ela tem seus átomos dispersos e já não há
mais vida para ela. Não existe imortalidade da alma para os monistas, daí ser
infundado o medo da morte:
"Acostuma-te à
ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem
nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência
clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida
efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de
imortalidade" (EPICURO, Carta sobre
a felicidade (a Meneceu). Trad. Álvaro Lorencini e Enzo del Carratore. São
Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 27).
Outros filósofos tenderam a explicar o
ser humano como composto de duas partes diferentes e separadas: o corpo
(material e movido pelo desejo) e a alma (espiritual e consciente). Esta
concepção era já sustentada por Platão, e afirma serem o corpo e a alma partes
distintas que constituem o ser humano. Ela é conhecida como dualismo: corpo e alma são compostos
por elementos diferentes, possuem características discordantes que fundamentam
uma hierarquização entre eles. Assim, é comum a esta concepção sustentar que o
corpo é material, enquanto a alma é imaterial, que o corpo é mortal, enquanto a
alma é imortal, que o corpo é irracional, movido pelos desejos, enquanto a alma
é a sede da razão, capaz, por isso, de conhecimento intelectual. Por seus
atributos, a alma seria mais real que o corpo, espécie de recipiente que a
contém, que a aprisiona, em sua estadia no mundo.
*para simplificar, o texto sempre se
refere à relação entre corpo e alma. Mas cabe lembrar que, como disse durante
as aulas, esta relação pode ser pensada também como corpo e mente, dada a
abrangência do termo grego, psyché,
que pode significar alma, ego ou mente.
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