terça-feira, 27 de maio de 2014

Nicolau Maquiavel (1469 - 1527)

Nicolau Maquiavel, pintura de Sandi di Tito,
no Palazzo Vecchio
Ao contrário de outros teóricos políticos, Maquiavel concebe a política como um campo de reflexão autônomo à ética, mas que não a despreza. Segundo o autor, a natureza humana se repete, se mantém ao longo do tempo, mas é má, de modo que pressupor a bondade alheia é expor-se ao perigo e à ruína. Uma vez que o amor não é um sentimento que possa ser induzido em uma pessoa, e considerada a natureza humana, o príncipe não deve procurar ser amado, mas temido, pois há meios pelos quais se pode infundir temor em outras pessoas. No fundo, a distinção maquiaveliana é aquela entre “ser” e “parecer”: é desejável que o ator político conserve as virtudes de seu tempo, mas se se deixar guiar por elas, sendo amado e não temido, não conseguirá manter o poder. Ao mesmo tempo, não deve ser ele odiado por seus súditos, o que encerraria o mesmo perigo. Em suma, os súditos devem respeitar as suas leis e temer a sua força.
Fortuna e virtù foram os termos empregados por Maquiavel para interpretar os dois pólos em torno dos quais giram o sucesso e o insucesso das ações humanas. A virtù, que não deve ser confundida com as virtudes cristãs, diz respeito à capacidade do ator político de agir de maneira adequada no momento adequado, procurando ganhar e conservar o poder político, sem qualquer finalidade que lhe seja externa. Partindo deste conceito, Maquiavel desembaraça a política das esferas da ética e da religião, de modo que estas não a subjuguem. O conceito de virtù é articulado no limite de duas situações: a mutabilidade do mundo, que tem seus valores e condições constantemente alterados, e a tendência do ser humano em repetir um comportamento que foi bem-sucedido em uma dada ocasião. Assim, a virtù é uma capacidade que encontra seus limites tanto no ator político, que insiste em repetir seus atos quando eles não são mais eficazes, quanto no mundo, que em sua eterna mutabilidade faz com que não possamos nos fixar em apenas uma maneira de agir.

O outro pólo da ação política é a ideia de fortuna, uma força que não pode ser inteiramente dominada pelos homens, uma força que abre todas as possibilidades da história aos seres humanos: não sabemos nunca como uma determinada situação irá evoluir. A imprevisibilidade da fortuna não é motivo para que não se atue politicamente: deve-se ter esperança em seus secretos desígnios e, ao mesmo tempo, atuar segundo a virtù, de modo adequado às situações impostas pela fortuna. No capítulo XXV de O Príncipe, diz Maquiavel: “penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos deixe governar quase a outra metade”.